sábado, 12 de novembro de 2011

Entre o Berço e o Cálice


        Totalmente ansiosa para ver o belo Diego, Karen sai de seus aposentos e desce para a festa. Ela estava impecável. Assim que colocou os pés na escada, e à medida que ia descendo os degraus, atraia para si todos os olhares da festa. Estava vestindo um brilhoso vestido branco e seus cabelos, longos, louros e encaracolados, estavam soltos sobre seus ombros, tocando sua cintura. Usava um belo colar de pérolas, seus brincos, precisamente, combinavam com o colar.

           Karen descia as escadas com olhos atentos, à procura do seu amado, Diego.
- Onde ele está?- perguntou a si mesma.

           Assim que chegou ao salão de festa, seu noivo veio ao seu encontro.

- Meu amor, você está maravilhosa!- exclamou ele após beijar sua mão
- Oi Henrique, você... você também está muito elegante.- disse com voz falha.
- Você poderia, pelo menos, tentar fingir que me ama! Estamos em público. – sussurrou em seu ouvido.
- O público já está cansado de saber que eu só estou com você porque estou sendo obrigada pelo meu pai.
- Vai se acostumando com a idéia, meu amor, você vai ser minha. – sorriu – Vou buscar uma bebida para nós.
- Asqueroso, nojento, idiota... Vamos ver se serei sua! – após sussurrar para si mesma, Karen sai à procura de Diego.

           Ela precisava encontrá-lo, pois na noite passada havia recebido dele uma correspondência, através de uma amiga, onde dizia:
Minha amada
Não consigo viver um minuto só longe de você.
Eu já planejei tudo
Amanha a noite, quando todos estiverem na festa
Nós dois fugiremos para bem longe daqui
Onde poderemos nos amar para sempre!
De quem te ama:
Diego
           Ela estava disposta, já havia decidido que ser feliz com o amor da sua vida valia mais que tudo. Porém desapontar seus pais, envergonhar o nome da família e provocar ódio em Henrique, que iria atrás dela até o fim do mundo, se necessário, assombravam seus pensamentos. Ela estava com medo, medo de não ter coragem o suficiente para fugir, medo de desapontar Diego.

           Ela caminhava, com pressa, entre as pessoas à procura do amado quando, de repente, um braço masculino a puxa para trás de um armário.


- Karen! – disse Diego, com voz suave.
- Diego meu amor, até que enfim te encontrei.
- Acho que eu te encontrei. – disse beijando-a o pescoço.
- Diego, aqui não, por favor, podem nos ver.
- Deixe que nos vejam, pois será a última vez mesmo, não é?
- Si... Sim! – respondeu ela com voz trêmula.

           Naquele momento suas emoções estavam à flor da pele, nunca havia ficado tão nervosa assim. Estava ofegante. Seu coração batia forte, sua boca estava seca e suas pernas quase não sustentavam seu formoso corpo. Karen pensava em desistir.

- Meu amor, combinei com a Renata e daqui cinco minutos – disse olhando para seu relógio de pulso – ela vai procurar Henrique e entretê-lo para que possamos sair sem que ele nos veja.
- Mas como ela vai fazer isso?
- Bem, na verdade eu não sei, mas ela disse que ia desmaiar na frente dele, derrubar bebida em suas roupas, e se ainda assim não o parasse, tascaria um beijo na boca dele, em plena festa.
- Nossa, eu até queria ver esta cena, a Renata beijando-o em plena festa. – disse Karen, rindo.
- Você não ficaria com ciúmes, não é? – perguntou Diego ironicamente.
- Não, nem um pouco! Para de brincadeira.

           Karen estava cada vez mais nervosa, seus pensamentos todos desorganizados em sua mente.

- Está na hora, vamos Karen!

           Diego tomou-a pelo braço e andava pelo meio da festa. Karen, com os olhos lacrimejados, o seguia logo atrás. As pessoas olhavam espantadas, enquanto eles se dirigiam para a porta dos fundos.

- Diego, estão todos olhando para nós!
- Deixe eles para lá, vamos logo antes que Henrique nos veja.

           Deixaram o salão, e ao sair pela porta, Karen pára.

- Karen? O que foi?

           Karen olhava para o chão, a procura de palavras, mas não encontrava.

- Meu amor, eu sei que você está com medo, mas se quiser viver comigo sabe que tem que ser assim. – falou Diego, com voz triste. – seu pai nunca vai aceitar nosso casamento.
- Eu sei! E eu quero viver com você, mas meu pai nunca me perdoaria.
- Então, você não vem?

           Diego olhava em seus olhos, sua expressão era difícil de decifrar, percebia-se que ele estava muito decepcionado, mas com a esperança de ouvir a resposta que ele esperava.

- E... eu... eu não posso, Diego. Me perdoe!
- Você prefere ficar e se casar com aquele interesseiro?
- Você sabe que não.
- Então você não me ama mais?
- Amo.

           As lágrimas corriam pelo rosto de Karen.

           Diego virou as costas e estava indo embora.

- Você vai embora? – perguntou Karen.

           Houve um silêncio por alguns instantes, e olhando fixamente em seus olhos ele respondeu:

- Não há mais nada para fazer aqui. – disse enquanto dos seus olhos desabrochavam as mais tristes lágrimas e escorriam, molhando sua face.

           Com voz trêmula ela suspira e diz:

- Me perdoe!
- Tudo bem, não se sinta culpada, tem todo o direito de escolha. Adeus!

           Ele foi embora. Ela caiu no chão, ali mesmo, e o choro tomou conta dela. Talvez nunca mais o visse, talvez nunca mais fosse feliz. Pelo menos, carregava um pedaço dele dentro de si, sim uma eterna lembrança, um fruto deste amor em seu ventre.

A Vida é Uma Caixinha de Surpresas

Era exatamente 00:00 horas do dia 01/01/2000. Um novo ano se iniciando e ele sozinho, sentado na varanda de seu apartamento, assistindo aos fogos de artifício nos céus de São Paulo. A beleza daquelas luzes não amenizavam nem um pouco a solidão que pairava sobre João. Aquelas cores vibrantes refletiam em seus olhos lacrimejados, enquanto tudo o que ele mais desejava no momento era estar acompanhado. Não necessitava ser uma namorada, apenas um amigo já o faria sentir-se um pouco mais feliz. 

Já cansado de apreciar os fogos de artifício, João levanta-se da sua cadeira de balanço, na varanda, e se dirige até seu quarto. Retira, de dentro do guarda-roupas, uma caixa vermelha com um laço branco sobre a tampa. Senta-se na beirada da cama e retira de dentro da pequena caixa algumas fotos. De seus olhos começam a brotar lágrimas que rolam pelo rosto, aquelas fotos pareciam mexer muito com as emoções de João. De repente, ao ver a foto de um pequeno menino que sorria alegremente, sua expressão de tristeza e angustia se desfez em um pequeno sorriso que nasceu em seu rosto já molhado pelas lágrimas. João, segurando a foto, colou alguns pedaços de fita adesiva em seu verso e a grudou na cabeceira de sua cama. Beijou sua mão e acariciando a criança da foto exclamou:

- Espero um dia te encontrar, filho!- E novamente as lágrimas brotaram em seus olhos e rolaram pela sua face. 

 O telefone tocou, e João, levantando-se, e enchugando as lágrimas foi atendê-lo. Em seus pensamentos se questionava sobre quem poderia estar ligando a essas horas, pois já era de madrugada.

-Residência Ferreira, com quem quer falar?
- É o Fabinho?
- Nada de Fabinho – e desliga, velho demais para trote.

Outra vez:

- Desculpe. É a voz do Fabinho.

Tão doce a inflexão, que ele muda de idéia:

- Me chamo João. E você?
- Olá, João. Eu me chamo Gabriel. Desculpe-me se lhe acordei.
- Não tem do que se desculpar, não estava dormindo.- disse enquanto repetia o nome daquele homem em sua mente, Gabriel.
- Eu sei que não tenho nada a ver com a sua vida, mas o senhor está bem? está com uma voz estranha.
- Eu estou bem, obrigado! Como conseguiu o número aqui de casa?
- Bem, meu amigo Fabinho me passou o numero dele, mas acho que devo ter anotado errado.

Tudo estava explicado, não havia mais motivos para contiuar com a conversa. Mas João estava gostando de falar com alguém, que, por estar telefonando à aquelas horas, também deveria estar sozinho.

- Bem, não sei o que fazer agora, Fabinho era minha última chance!- exclamou Gabriel com voz triste.

E João pensou "do que será que ele está falando?" "que problemas será que está passando? " “será que pergunto?" E tomando coragem, perguntou:

- Quer compartilhar comigo, não sei o porquê, mas posso tentar ajudar.
- João, já fazem sete anos que descobri que fui sequestrado quando tinha três anos de idade. E no meio do caminho os sequestradores desistiram do sequestro e me largaram num orfanato, no México. Tive a grande sorte de ser adotado, mesmo não sendo mais um bebê, por uma família brasileira, que quiseram me adotar porque gostaram de mim. Morei no México durante quase toda a minha vida, porém, fazem oito anos que nos mudamos para o Brasil. Sem querer, ouvi uma conversa entre meu pai e minha mãe, adotivos, onde descobri que eu era adotado e eles não sabiam nenhuma informação sobre meus pais biológicos. 

João ouvia a história daquele rapaz com seus olhos molhados e com um nó na garganta segurava-se para não chorar.

- E desde então - continuou Gabriel - a minha vida foi dedicada a encontrar os meus pais biológicos, e Fabinho era o único que conhecia alguém que poderia ser. 

João estava sem palavras, simplesmente surpreso com o relato de Gabriel, e este ouvia os gemidos de choro do outro lado da linha.

- João, o senhor está bem aí?

Gabriel, sem entender absolutamente nada, se preocupa e fica ansioso e pergunta novamente:

- João, o senhor está bem aí? 

 Com muito esforço, João conseguiu sussurrar algumas palavras:

- Eu sabia! Eu sabia!
- O que o senhor sabia, João?- questionou Gabriel, sem entender nada.
- Eu sabia, que algum dia eu ia te encontrar, filho! Desde que te sequestraram aos três anos de idade eu nunca mais fui feliz, e a minha vida foi te procurar, nunca perdi a esperança! Você deve estar com trinta e sete anos de idade, não é? Seu aniversário é dia dezesseis de novembro? Seus olhos são verdes e você tem uma marca de nascença, uma pequena mancha marrom, em seu braço esquerdo?
- Sim! Sim, este que o senhor descreveu sou eu! Eu não acredito! - exclamou surpreso - Encontrei, encontrei, encontrei meu pai!

Tanto João como Gabriel estavam muito felizes, pois as angústias de suas vidas acabaram quando se encontraram. E tanto João como Gabriel, viram que nunca deve-se perder a esperança. Pois a qualquer momento, a qualquer hora, Deus pode fazer da sua vida uma caixinha de surpresa!                                                                                                                                                      

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O Homem do Saco

    Certa vez estávamos, eu e meus amigos, a brincar na rua lá de casa quando de repente avistamos um homem, já velho, que vinha caminhando com um saco nas costas. Seus passos eram fortes e constantes, precisos e com pressa a chegar em seu destino.  Sujo, com seus cabelos e barba por cortar, ele avançava em nossa rua com aquele saco nas costas. Eu e meus amigos nos assustamos com sua figura e corremos todos lá pra casa, até que ele passasse. 

    No dia seguinte, aquele homem tornou a passar lá pela nossa rua novamente, e como no dia anterior, com medo, corremos lá para casa até que ele passasse. E assim foi, essa cena se repetindo ao longo de muitos dias. 

    Com o passar das semanas, meu medo foi se tornando em curiosidade. Eu estava louco para saber o que aquele senhor carregava naquele saco velho em suas costas. Minha imaginação já estava aguçada, quando me deitava para dormir,  ficava imaginando o que será que havia naquele saco. Será um ladrão de crianças que as rouba e leva-as dentro daquele saco? E para onde ele as leva? Será que as leva para uma caverna escura e lá ele cozinha e come as criancinhas? Estremeci com a idéia, e busquei o sono. 

    No outro dia, já de tardinha, lá vinha o homem com seu saco nas costas. Lembrei-me do que havia cogitado noite passada, sobre as criancinhas, e me recolhi. A noite chegou e mais uma vez eu estava lá pensando no que poderia ter dentro daquele saco que aquele senhor carregava, mas desta vez o sono não veio. Eu estava ficando inquieto, ansioso, a curiosidade chegou ao extremo, era como se o saber daquilo que para mim era um mistério fosse tirar um grande peso de meus ombros e me devolvesse a paz e o sono novamente. 

    No dia seguinte, acordei pela manha decidido em perguntar à aquele senhor o que ele, por vez, carregava naquele saco em suas costas. A curiosidade havia me despertado a coragem para enfrentar meu medo e realizar tal ação. Logo chega a tardinha e lá vou eu para a rua, brincar enquanto espero o senhor passar. De repente, lá vem ele, como sempre com seu saco nas costas. Ele se aproxima e eu tomo coragem e pergunto:

- Hey, senhor! Boa tarde! - falei meio trêmulo.
- Boa tarde meu jovem! - e continuou a andar.
- Posso lhe fazer uma pergunta?- questionei sem ter idéia da resposta.

    Ele parou, virou-se para mim e com um sorriso no rosto respondeu:

- Claro meu jovem, pode perguntar.
- Já faz algum tempo que eu observo o senhor a passar por aqui, e eu gostaria muito de saber o que o senhor carrega neste saco? Se o senhor não se importar em responder.
- Bem meu jovem, eu trabalho colhendo feijões em uma grande plantação e todos os dias eu trago para casa os feijões que não servem para ser vendidos. Minha família é muito humilde e esses feijões estragados matam minha fome e também da minha esposa e filhos. - Sorriu, passou a mão em minha cabeça, se despediu e foi embora.

    Eu havia ficado sem palavras. Foi quando percebi que estava enganado e, realmente, nem tudo é o que parece ser!